Publicada em 20/01/2024 às 10h02
Porto Velho, RO – Rondônia, conhecida como um celeiro da direita bolsonarista, surpreende ao testemunhar uma mudança significativa no posicionamento político de Confúcio Moura, do MDB. O veterano político, que já ocupou cargos como prefeito, deputado federal, governador e, desde 2018, senador, agora assume oficialmente uma postura crítica à extrema-direita e à ditadura militar, consolidando-se como uma base de apoio ao governo de Lula, do PT.
Aos 76 anos, Moura se destaca como o único membro da bancada federal rondoniense em paz com o atual governo federal. Sua influência é evidenciada pela indicação de Williames Pimental, outro emedebista histórico, para a função de diretor administrativo da Agência Brasileira de Apoio à Gestão do Sistema Único de Saúde (AgSUS), ligada ao Ministério da Saúde.
RELEMBRE
Com Confúcio na base de Lula, crítico da direita e Pimentel no governo federal, MDB pode gerar incertezas para o eleitorado de Rondônia
Num cenário político em constante evolução, a decisão de Moura de se distanciar do bolsonarismo e abraçar uma postura progressista não passa despercebida. Em 2026, terá a oportunidade de disputar a reeleição como senador ou, dependendo do cenário nacional, tentar retornar ao Palácio Rio Madeira.
Contudo, a incerteza paira sobre o futuro do progressismo em Rondônia. As recentes manifestações políticas de Moura, ao "sair do muro", lançar-se nos braços de Lula e da esquerda, e alinhar-se a uma visão mais progressista, levantam questões sobre o destino da última centelha do progressismo no estado. Se, porventura, Moura decidir se aposentar da política em 2026, poderá abrir espaço para uma ascensão do neobolsonarismo.
Além disso, a mudança de postura de Moura também pode impactar a dinâmica política local. Filiados e simpatizantes do MDB em Rondônia, acostumados à narrativa bolsonarista, podem se ver diante de uma encruzilhada ideológica, tendo que reavaliar suas afinidades políticas. A dualidade de opiniões dentro do partido, com lideranças como Lúcio Mosquini e Thiago Flores alinhados ao bolsonarismo, sinaliza possíveis tensionamentos internos.
No entanto, o gesto de Moura pode abrir espaço para um diálogo mais amplo e inclusivo dentro do MDB rondoniense, promovendo uma diversidade de ideias e perspectivas. A busca por uma identidade política própria, desvinculada de rótulos pré-estabelecidos, pode se tornar um desafio e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para o partido se reinventar e se adequar às demandas do eleitorado local.
Ademais, é crucial observar como a mudança de alinhamento de Confúcio Moura reverbera nas próximas eleições municipais. A possível candidatura de Williames Pimental à Prefeitura de Porto Velho, com o respaldo de Moura e sua nova postura progressista, pode representar um divisor de águas na política local. O eleitorado terá a oportunidade de avaliar e ponderar sobre essa transformação ideológica e suas implicações para o futuro da administração municipal.
É evidente que a trajetória política de Confúcio Moura desperta um interesse não apenas regional, mas também nacional. O alinhamento de um político com sua experiência e histórico ao governo de Lula sinaliza mudanças no xadrez político brasileiro, podendo influenciar o panorama político não só em Rondônia, mas em todo o país. Resta-nos acompanhar atentamente os desdobramentos dessa reviravolta e suas consequências para o futuro político da região e do Brasil como um todo.
A sobrevivência da esquerda em Rondônia está intrinsecamente ligada ao alinhamento e engajamento das forças políticas do espectro progressista no estado. Apesar do PT estar atualmente no poder no Planalto, na Assembleia Legislativa (ALE/RO), a representação é limitada, contando apenas com a presença de Cláudia de Jesus. A ausência de uma presença expressiva na ALE/RO reflete um desafio significativo para o fortalecimento da esquerda a nível estadual, evidenciando a necessidade de um esforço conjunto para consolidar uma presença mais marcante e influente.
Na capital, a escassez de vereadores progressistas contribui para a fragilidade da esquerda no cenário municipal. O déficit de representatividade política progressista na Câmara Municipal destaca a urgência de estratégias eficazes para impulsionar a participação da esquerda nas esferas locais de decisão. A falta de uma presença expressiva nos cargos legislativos e executivos municipais impede a concretização de políticas alinhadas com as ideias progressistas, tornando crucial a mobilização e organização das forças de esquerda para enfrentar esse desafio.
Além disso, desde a ascensão de Jair Bolsonaro à Presidência da República em 2018, os movimentos sociais em Rondônia têm enfrentado uma crescente fragilização. A polarização política e o predomínio de arquétipos da direita nos postos políticos contribuíram para um enfraquecimento dos movimentos sociais progressistas, que enfrentam obstáculos significativos para promover suas pautas e consolidar uma presença ativa na sociedade. Assim, a sobrevivência e o ressurgimento da esquerda em Rondônia dependem não apenas de posicionamentos individuais, mas da capacidade de articulação e mobilização das forças progressistas para enfrentar os desafios impostos pelo atual panorama político.
O neobolsonarismo pode ser classificado como um movimento de pessoas que usam o nome do ex-presidente conservador, hoje no PL de Valdemar Costa Neto, mas não necessariamente exercem um futuro mandato para defendê-lo ou mesmo exaltá-lo, como faz, neste último caso, por exemplo, seu correligionário Coronel Chrisóstomo e o senador, também do seu partido, Jaime Bagattoli.
Diferentemente do senador Marcos Rogério, que tentou capitalizar o "suco do bolsonarismo" em 2022, enfrentou derrota nas eleições estaduais para o xará Marcos Rocha, do União Brasil. Atualmente, Rogério mantém-se alinhado às pautas bolsonaristas, mas adota uma abordagem mais discreta em relação ao ex-presidente, salvo em situações-chave que visam reacender a "bolha" local.
Em resumo, a possível aposentadoria de Confúcio Moura e a falta de organização da esquerda em Rondônia podem abrir caminho para a gestão estadual por autoridades influenciadas por essa postura neobolsonarista. O desafio para o futuro político do estado reside não apenas na aposentadoria de líderes de longa data, como Moura, mas também na capacidade de articulação e organização das forças políticas que desejam moldar o destino da região. A ausência de uma estratégia clara por parte da esquerda pode resultar na predominância de atores políticos que, embora carreguem a roupagem do bolsonarismo, apresentem uma relação mais fluida e variável com as pautas do ex-presidente, moldando assim o cenário político em Rondônia.