Turismo rural revelará uma Rondônia rica e desconhecida

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Francisca fabrica sabonetes coloridos e shampoos em reserva extrativista de Guajará-Mirim

O que faz dona Francisca Rodrigues com seus sabonetes coloridos se ainda não tem para quem vendê-los em quantidades razoáveis? Lá nos confins da Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto, em Guajará-Mirim, ela seleciona essências florestais para perfumes e shampoos.



Poderia se beneficiar de uma política de turismo rural ainda inexistente no estado. É impossível trabalhar o turismo rural isoladamente, reconhece o superintendente estadual de Turismo, jornalista Julio Olivar. “Precisamos criar um circuito em que cada propriedade se difira uma da outra e se complementem, com disposição expressa dos seus moradores em torná-las pontos turísticos”


Esses pontos pressupõem a existência de produtos e guias, tornando o ambiente o mais receptivo adequado às exigências do mercado turístico. A análise traduz o propósito de Olivar para 2015. “O papel da Setur seria contribuir tecnicamente para a construção do diagnóstico das ofertas e sua promoção em escala profissional, a fim de viabilizá-las economicamente”, ele assinala.

Riqueza “oculta”



Rondônia é um estado rico em rios, pedras, serras, bovinocultura, tem floresta nativas, buritizais, palmeirais, e nos derradeiros três anos vem se destacando com o vertiginoso crescimento da criação de peixes em cativeiro, café irrigado, equoterapia, berçário de tartaruguinhas amazônicas e outros atrativos.



E é possível tornar ambientes receptíveis às exigências do mercado turístico? Se depender do que já foi feito no peito e na raça pelo marido de dona Francisca, sim. Napoleão Rodrigues e ela começaram em 2007 a mexer com a floresta de babaçu, a cem metros das casas da família, onde até crianças participam da tarefa de coleta. O coco é colhido menos de 24 horas depois da queda.

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Sitiante Adonias Coelho mostra a cachoeira do Rio Escondido, em Vilhena

 

Quando o repórter visitou-os, soube que o coco deve ser exposto para secar num jirau ao ar livre. “Eu quebro e separo o babaçu. A casca vai para a queima, a entrecasca para fabricação de farinha, a amêndoa produzirá o óleo”, conta-me entusiasmada dona Francisca.



Assim, esse produto da floresta no entorno do Rio Ouro Preto, na fronteira brasileira com a Bolívia, tanto para o biocombustível quanto o que é usado na produção de sabonetes, shampoo e cosmético.



“Do bagaço ainda se produz o sabão de lavar roupa”, ela explica. O casal consegue uma safra de 20 a 30 quilos de amêndoas para dez litros de óleo. A mistura ao óleo diesel movimenta a pequena usina de energia elétrica ao lado da casa deles. A mini-usina foi montada em parceria com o Grupo de Energia Renovável e Sustentável da Universidade Federal de Rondônia, supervisionado pelo cientista Artur Moret.


No começo houve dificuldades. “Demoramos a aprender que primeiro se deve aquecer o motor com o diesel e só então liberar a entrada do óleo do babaçu, já aquecido para a mistura. Aos poucos, ele sozinho gira o motor”, lembra. Além da autossustentação do negócio, há excedente de óleo vendido para os vizinhos. E está garantido o forró nos finais de semana e em dias especiais.


Olivar acredita que o diagnóstico previsto para o setor surgiria a partir da instituição do associativismo no turismo rural. Se unidas, essas iniciativas terão conquistas reais, maiores e mais rápidas, ele acredita.



“O receptivo precisa ser qualificado tanto na oferta dos seus produtos quanto no entendimento de que o turismo se faz em cadeia e está conectado ao seu meio”, justifica.

Pedras amontoadas em Rolim de Moura, Zona da Mata

Mapeamento imediato

Segundo Olivar, a Setur terá condições de elaborar o mapeamento e com ele redigir o documento denominado O retrato do turismo rural em Rondônia, voltado para pequenos negócios.

Devido às sucessivas andanças pelo interior do estado, ele sabe que o turismo rural rondoniense, embora viçoso, vive um regime híbrido em relação ao que se pratica no turismo convencional, urbano. “A realidade normativa é o fato de o turismo rural servir de complementação de renda de muitos empreendimentos. Não há lei que regule essa situação”, comenta.





Segundo constata, muitas vezes, o empreendedor rural se sente impedido de receber grupos de turistas em sua propriedade, porque não pode emitir um documento fiscal exigido pelas agências e operadoras de turismo, referente à hospedagem e alimentação.



Outro desafio refere-se às questões trabalhistas, previdenciárias e tributárias. Assim, a Setur trabalhará neste primeiro semestre do ano, visando a consolidar o reconhecimento do turismo rural, sua legalização e normatização. Na sequência, irá explorá-lo.



Desinibir os atores, eis o desafio segundo Olivar. Ele entende que o Governo Estadual poderá contribuir por meio do fomento do Banco do Povo, que já tem 25 agências em diferentes regiões do estado. Paralelamente, estariam envolvidas a Secretaria Estadual de Agricultura (Seagri), a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RO) e a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Ambiental (Sedam).



“Até mesmo o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial contribuiriam”, ele raciocina, “com projetos de marcas e embalagens para produtos da floresta e das fazendas e treinamento de mão de obra para o atendimento aos visitantes”.

 



CTG de Rolim de Moura é o maior do País



Na medida em que atua na regularização fundiária rural, concedendo títulos definitivos de terras, o Governo Estadual permitiu aos empreendedores rurais atuar no setor turístico, tornando suas propriedades qualificadas para a contração de financiamentos e o apoio formal. “O capítulo da ordem econômica e financeira da Constituição Federal de 1988 faz menção expressa ao turismo como fator de desenvolvimento social e econômico”, lembra o superintendente.



UM SEGMENTO IMPORTANTE



► Quando surgiu no Brasil, na década de 1980, o turismo rural era somente uma forma de fazer frente às dificuldades financeiras que as fazendas, totalmente baseadas no setor agropecuário, enfrentavam.

► A revalorização do modo de vida do campo e as grandes transformações nele ocorridas em três décadas mudaram o cenário.

► Com as novas relações de produção e trabalho e o surgimento de funções econômicas, sociais e ambientais, o turismo rural ganhou importância e se tornou um dos principais segmentos do setor no País.

► A Setur encontra na exploração da modalidade obstáculos originados na falta de ação efetiva da iniciativa privada.
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Agamenon mostra a produção cafeeira dos índios Suruís, em Cacoal

► Peões de fazenda, camponeses, currais, indígenas, artesanato, seringueiros, farinheiros, doceiros e fabricantes de perfumes nas reservas extrativistas ou em algumas fazendas no estado estão aí para serem resgatados.

► O diagnóstico da Setur deverá apontar a formatação desse segmento o papel a ser exercido por associações de turismo rural.

► Propriedades rurais se tornarão pontos turísticos se ofertarem meios de hospedagem, visitas ao modus vivendi dos agricultores, contemplação dos cenários campestres e de projetos ambientais e agrícolas. Seu patrimônio cultural e natural será valorizado.

► Na definição de seus produtos de turismo rural, empreendedores devem contemplar com a maior autenticidade possível os fatores culturais, por meio do resgate das manifestações e práticas regionais (o folclore, os trabalhos manuais, os “causos”, a gastronomia), e primar pela conservação do ambiente natural.

► No campo do desenvolvimento econômico, o turismo rural só produziria atividades quando localizado em núcleos próximos a grandes cidades ou em locais com atrativos especiais. Há perigo a ser contido: a massificação pode causar impactos ambientais graves, abandono de atividades agropecuárias e excessiva terceirização da atividade econômica.

 

ISTO É RONDÔNIA

 

 

Autor / Fonte: Decom-RO

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