Técnicos comemoram êxito da soja em Rondônia e alertam contra pragas


Dia de campo na Embrapa

Algumas variedades de soja se adaptam bem ao clima de Porto Velho

 

Ao contrário da escassez paulistana, nordestina e de outras regiões, a Amazônia Ocidental Brasileira tem fartura de água. Utilizá-la com sabedoria contribui com o êxito das safras de soja, que exige muita água para germinar. Ao mesmo tempo, o conceito iLP (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) pode diminuir áreas de pastagens degradadas. Sessenta por cento dessas áreas servem para o plantio de soja em Rondônia.

 

Esses e outros temas foram mostrados terça-feira (3) no Dia de Campo de Soja promovido pela Unidade Estadual da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa-RO), no Km 5,5 da rodovia BR-364.

 

Principal produto agrícola rondoniense, a soja aumentará em 20% sua área cultivada na safra 2014-2015, com produtividade média de 3,18 toneladas por hectare, superando a média nacional de 2,8 toneladas, informou a Companhia Nacional de Abastecimento. A receita desse grão alcançou R$ 601 milhões na safra agrícola 2013-2014, colhida em 240 mil hectares cultivados em 26 dos 52 municípios.

 

“Há mais de 20 anos experimentamos longa jornada de trabalho. Vivemos um período de conquistas”, comentou o chefe geral da Embrapa-RO, César Teixeira. Na região de Vilhena (a 750Km de Porto Velho), conhecida por Cone Sul, produtores têm atualmente facilidades para melhorar a semeadura da safrinha (segunda safra com milho, sorgo, girassol e outras culturas).

 

Algumas variedades de soja se adaptam bem ao clima de Porto Velho, entre elas a BRS8980, que faz parte da campanha de promoção de cultivares da Fundação Cerrado. Seu ciclo é de 110 dias. Dados de produtividade do campus experimental da Embrapa-RO serão conhecidos nos próximos três meses.

 

“Se os produtores estaduais se unirem, poderão modificar a atual dependência de sementeiros de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais”, avalia o coordenador do Programa de Soja, Frederico Botelho.

 

No ano agrícola 2013-2014, a Embrapa-RO recomendou algumas cultivares, destacando-se: 752S (tolerante à chuva na colheita) e 810C (resistente ao nematóide de cisto). Com resistência testada há oito anos, sementes da BRS8581 já são “exportadas” para Goiás e Minas Gerais.

 

Entre as transgênicas, produtores plantaram as cultivares 7605RR, 820RR. Tieta e 810C destacaram-se na semeadura do ano agrícola anterior. Lavouras rondonienses situam-se em altitudes diferenciadas: enquanto a de Porto Velho não passa de 87m, sobe até 128m em Ariquemes, 207m em Cerejeiras, 234m em Castanheiras e 607m em Vilhena.

 

O fiscal estadual da Agência Idaron, Jessé de Oliveira Júnior explicou que o trânsito de sementes de soja só é permitido com a apresentação de documento de origem e destino. Há restrições fitossanitárias quando a propriedade rural for hospedeira de praga quarentenária (todo organismo de natureza animal e/ou vegetal presente em outros países ou regiões, mesmo sob controle permanente)

 

“Rondônia está livre da ferrugem asiática, mas o estado restringe, em Vilhena, a entrada de soja de outros estados, evitando-se a contaminação de nossas lavouras”, alertou. As três principais pragas nos sojais rondonienses: nematóide de cisto (presente em 35% das áreas produtoras), helicoperva armígera (ataca também o algodão) e ferrugem da soja (surgida em 2001 no oeste do Paraná). A helicoperva fêmea que contaminou lavouras do Grupo Coimbra põe 1,5 mil ovos e migra até mil quilômetros.

 

“Todas causam prejuízos, porque se propagam pelo ar ou por sementes sujas de terra vindas de outras regiões”, relatou Oliveira. Em caso de estrada com trânsito intenso cortando a propriedade, o cultivo com cultivares não hospedeiras em pequenas faixas de cada lado do caminho ameniza os prejuízos. “Serve de paliativo, mas vale”, ele disse.

 

Oliveira também recomendou a lavagem de tratores, arados e colheitadeiras, controle químico e uso de sementes certificadas. No calendário agrícola estadual, de 15 de junho a 15 de setembro, é obrigatório ao produtor eliminar fungos. Paralelamente, proprietários rurais devem cadastrar duas lavouras até o dia 30 de dezembro, sob pena de multa e de não obter financiamentos bancários.

 

“Não basta ter todas as peças do quebra-cabeças, é preciso combiná-las”. Este mote abriu o filme institucional mostrado pelo pesquisador Alexandre Martins Abdão dos Passos na palestra a respeito da evolução do conceito iLP (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta). “Essa combinação beneficia pequenos, médios e grandes produtores ao longo do ano”, ele frisou.
Técnicos da Embrapa falaram sobre a soja no estado

Técnicos da Embrapa falaram sobre a soja no estado

 

Segundo Passos, a existência de 254 milhões de hectares preservados no País e a estimativa do salto populacional no Planeta para nove bilhões de pessoas até 2020 exigem reflexões. “Nunca a realidade amazônica deixou tão claro o passivo ambiental causado pela degradação de solos e florestas. “Em se tratando do avanço na produção de grãos, o perigo é a queima ilegal”, constatou.

 

Ele dá a receita do aumento da eficiência produtiva com equilíbrio: 1) número de homens no trabalho; 2) pontos de fósforo e de potássio na lavoura; 3) melhor distribuição de nutrientes. O município de Porto Velho, por exemplo, exige quatro toneladas de calcário por hectare. “Até há pouco tempo era impensável 1,8 safras/ano em Vilhena. Hoje, o desafio é chegar a três safras e meia”, disse o pesquisador.



PRIVILÉGIO RONDONIENSE

“Depois da sede na Capital do Estado de São Paulo (o Sistema de Captação Cantareira está se exaurindo), a agricultura virou vilão”, comentou. Contudo, lembrou o fato de muitas propriedades utilizarem sensores e outras tecnologias apropriadas a previsões de frio, chuvas e estiagem.

 

“Rondônia tem muita água, e dela qualquer agricultura necessita. Somos privilegiados, quando nos comparamos com os estados de São Paulo e Mato Grosso, que já acumulam déficit hídrico e perdem safras”, comentou o estudante de agronomia Pedro Henrique Coelho Gonçalves Ferreira. Ele supervisiona 1,5 mil ha de soja e 1,5 mil ha de milho, na propriedade do pai, o empresário Mário Gonçalves Ferreira.

 

No segundo ano de cultivo desses grãos, Ferreira utiliza 7,2 mil toneladas de milho (120 mil sacos) para a silagem do gado nelore, cujo plantel de nove mil cabeças deverá dobrar a partir de 2016. A produtividade média do milho é de 80 sacos/ha.

 

A integração lavoura-pecuária-floresta tem funcionado como estratégia de produção sustentável para integrar, na mesma área, atividades agrícolas, pecuárias e florestais. Em 2012, o agrônomo Passos, a doutora em zootecnia e pesquisadora Ana Karina Dias Salman e os engenheiros florestais Helaine de Sousa e Henrique Nery Cipriani descreveram no Guia arbopasto 51 opções de espécies arbóreas nativas da Amazônia Ocidental, devidamente classificadas e ranqueadas com base na sua aptidão para produção de madeira e fornecimento de serviços múltiplos em sistemas silvipastoris.

 

Em 2010, o sistema iLPF revelava componentes agrícolas com milho, soja, arroz e feijão-caupi; forragem, com capim braquiária (Urochloa ruziziensis), braquiarão (Urochloa brizantha cv), Xaraés e florestal, mogno-africano (Khaya ivorensis), teca (Tectona grandis), eucalipto (Eucalyptus spp.) e paricá (Schizolobium parahyba var. amazonicum).

Fotos: Esio Mendes

Autor / Fonte: Montezuma Cruz/DECOM

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