Sindicato acompanha vida de servidores intoxicados pelo DDT há quase uma década



Porto Velho, RO –
Há mais de oito anos o Sindsef (Sindicato dos Servidores Públicos Federais no Estado de Rondônia) acompanha um drama singular na vida de aproximadamente mil profissionais que fizeram parte da extinta Sucam (Superintendência de Campanhas da Saúde Pública), atualmente conhecida como Funasa (Fundação Nacional de Saúde).

Esses servidores tiveram contato com o primeiro pesticida moderno, proibido no Brasil desde 2009, o DDT. Um levantamento aponta mais de 60 mil casos em todo o país.

Os estados de Rondônia, Pará e Acre atuam na vanguarda encampando a luta nessa questão específica.

Há uma ação ajuizada para que o governo federal indenize e pague o tratamento para essas pessoas e seus familiares.

Em um desses processos que tramitou no Tribunal Regional Federal – 1ª, já houve ganho de causa em benefício dos intoxicados e seus familiares.

Daniel Pereira, que dirige o Sindsef em Rondônia, informou que o sindicato tem se preocupado com o tema.

– Tem sido uma luta árdua dentro e fora dos tribunais. Nós também realizamos seminários, como em Ji-Paraná, onde contamos com a presença da toxicologista Heloísa Pacheco. Naquela ocasião nos munimos de conteúdo para elaborar a PEC (Projeto de Emenda à Constituição), semelhante a dos Soldados da Borracha – afirmou o sindicalista.

Apoio parlamentar

Daniel também contou que os parlamentares rondonienses engrossaram a campanha pelos intoxicados por DDT.

– Levamos uma minuta ao Congresso Nacional que tramita de forma simultânea tanto na Câmara quanto no Senado Federal. Senadores daqui e deputados federais estão conosco. A idéia é conseguir que esses trabalhadores e seus familiares sejam indenizados justamente pelo contato com a substância – alegou Pereira.

O sindicalista ainda acredita que o número de vítimas do DDT pode aumentar e muito se o número de familiares for levado em conta. Ainda existe a hipótese de que essas pessoas que tiveram contato com o veneno possam apresentar sintomas mesmo após 30 anos, especialmente gente que morava em locais borrifados.



Rondônia Dinâmica conheceu três casos de pessoas intoxicadas; um em Candeias do Jamari e dois em Porto Velho.

Lourival Pinheiro Purjal, de 78 anos, mora na Rua Constelação, no bairro Castanheiras, Zona Sul da capital. Ele está aposentado desde 2005 e há oito anos convive com problemas sérios de saúde. Percebeu que havia algo errado quando começaram a surgir manchas pelo corpo. Ao procurar o médico para fazer exames, foi diagnosticado: estava mesmo intoxicado pelo DDT.

– O resultado do exame constatou mais de 10% de DDT no meu sangue. Os sintomas vão e voltam – lamentou.

Já sua esposa, Vilauba Mota da Silva (46), lembra quando o marido retornava do serviço com as roupas sujas e às vezes encharcadas pela substância tóxica.

– Eu misturava as roupas dele com as minhas, e com as da família. Nunca imaginei que ele iria ficar assim, nessa situação. Tem dia que a gente quase não dorme. Ele reclama de coceira pelo corpo todo e as manchas às vezes aumentam. Há sete anos estamos nessa situação. Pior é que acho que meu filho, de apenas doze anos, também esteja intoxicado. Ele reclama de coceira no corpo e também estão aparecendo muitas manchas – revelou.



Leonel de Souza Brasil (74), que mora em Candeias do Jamari, trabalhou como guarda da Sucam por 35 anos. Há 14 está aposentado.

Os últimos quatro anos têm sido sofríveis, segundo Brasil.

– Piorei muito. Hoje não posso mais andar de bicicleta. Não ando direito. Tenho cansaço, dor de cabeça contínua. Não imaginava que teria problemas no futuro. Lembro que, brincando com amigos, jogávamos venenos um no outro. Só agora percebo a gravidade disso. Perdi um amigo recentemente com os mesmos sintomas que os meus. Ele morreu há seis anos e já estava sem movimentação nas pernas – confidenciou.



O aposentado Antônio Serafim vive a mesma tragédia.

Aos 72 anos, sente coceira o tempo inteiro, dos pés à cabeça.

– Dói tudo. Coça tudo. Tenho caroços nas costas e manchas no corpo inteiro. Fui diagnóstiado com 9% de DDT no sangue. É complicado! Fizemos de tudo para dar saúde ao povo e agora estamos aqui, esquecidos, morrendo aos poucos. Não temos ninguém a quem pedir socorro. Só resta esperar – finalizou.

Daniel Pereira disse, por último, que o sindicato irá criar um programa de assistência para todos os intoxicados com DDT e seus familiares.

O Sindsef pagou mil exames que foram feitos em Brasília, no instituto Hermes Pardini.

– É necessário fazer mais por esses trabalhadores. Já vimos mortes de gente jovem, com trinta e cinco, no máximo quarenta anos. É inadmissível – asseverou Pereira.

Autor / Fonte: Rondoniadinamica

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