Rondônia Dinâmica entrevista: Professor Nazareno


Professor Nazareno tornou-se popular por conta de seus artigos irônicos e cheios de críticas / Foto.: Arquivo pessoal

ENTREVISTA

 

NOME COMPLETO: José do Nazareno Silva
QUANTO TEMPO TRABALHA NA EDUCAÇÃO EM RONDÔNIA: Há 36 anos, hoje atuando na Escola Professor João Bento da Costa em Porto Velho.

Questionamentos:

Rondônia Dinâmica – O que falta ao setor da Educação?

Professor Nazareno – Em termos de coisa materiais, é possível observar que as escolas do Brasil, principalmente as públicas, apresentam uma deficiência enorme nesta questão. Faltam carteiras, faltam materiais de expediente, geralmente o prédio está em ruínas e as salas de aula não têm climatização. Faltam livros, máquinas copiadoras, cadernos, lápis dentre outros materiais pedagógicos. Esta realidade é muito comum no país inteiro, infelizmente.

RD – Os servidores são bem valorizados?

PN – A valorização dos servidores públicos, de um modo geral, nunca existiu por parte do poder público e também da sociedade. Ser professor é acima de tudo ter a consciência de uma série de problemas a serem enfrentados. A sociedade brasileira em momento algum dispensou qualquer tipo de valorização

RD – Na escola em que você trabalha, quais são os principais problemas?

PN – No aspecto físico, a Escola Professor João Bento da Costa de Porto Velho sempre teve problemas. Apesar de ser um prédio relativamente novo, não deveria funcionar como uma escola para jovens e adolescentes. Faz um calorão terrível, não tem projeto de arborização, a instalação elétrica é precária e quando chove, invariavelmente, muitas salas de aula alagam por completo. A escola praticamente não tem auditório para os seus mais de três mil alunos e os banheiros, claro, são imundos. A realidade da escola, que é uma das que mais aprovam alunos no ENEM e vestibulares não é deferente das muitas outras escolas espalhadas pelo Estado de Rondônia e pelo país afora.

RD – Como o poder público trata a Educação?

PN – O poder público no Brasil nunca se preocupou com a educação das futuras gerações, esta é que é a maior verdade. Associada a esta tragédia nacional, a sociedade também nunca se preocupou em valorizar este setor vital para o desenvolvimento do país. O problema é antigo. As gerações passadas não investiram o que deviam em educação, por isso temos a sociedade que temos hoje em dia: violenta é desinformada em sua grande maioria. Mas também nós não estamos investindo no futuro de ninguém. A sociedade no futuro será, infelizmente, muito pior do que a hoje em dia. O Brasil tem mais de 200 milhões de habitantes e 516 anos de História. Nunca ganhou um Prêmio Nobel, um Oscar ou outra comenda internacional na área da educação e do saber. Somos uma nação de burros, ignorantes e de pessoas que não têm leitura de mundo. Uma potencia econômica que não valoriza a educação e o saber.

RD – Os alunos e seus pais têm contrapartida do Estado em relação à Educação?

PN – São raros os pais que vão à escola para saber a vida escolar de seus filhos. Não chega a 10% do total. Discussão de conteúdos? Muitos pais sequer sabem a série ou a turma de seus filhos. É uma lástima. O governo de um modo geral não valoriza a educação, mas as famílias no geral também não valorizam a educação e o saber. Seja o que Deus quiser. Fiz o filho, a escola que o eduque. Geralmente esta é a realidade. E sempre foi assim.

RD – E o professor, como é tratado?

PN – Na maioria dos casos, o professor no Brasil é um pária social. Tem somente obrigações com os filhos dos outros. Um médico no Brasil ganha horrores de dinheiro. Um juiz tem altos salários pagos pelo mesmo Poder Público e também vantagens absurdas. O professor tem geralmente um salário muito baixo e uma carga horária absurda que não lhe dá tempo para pesquisas ou para se atualizar. Quando um professor xinga um aluno ou perde o controle emocional, é denunciado no Ministério Público ou na Justiça comum e vai responder ações judiciais que quase sempre terminam em demissões sumárias ou outras punições.

RD – O dinheiro destinado à Educação lhe parece bem aplicado? Tem ideia de como funciona em outras escolas?

PN – O Brasil investe em educação cerca de 4% do seu PIB. O problema é que o dinheiro é sempre mal aplicado. Para se ter uma ideia, a Alemanha, país de Primeiro Mundo, investe o mesmo percentual em seu sistema de educação.  Lá, as escolas são de tempo integral e todas as ações na sociedade alemã saem das salas de aula. Os alunos nas escolas daquele país limpam as salas de aula e são responsáveis praticamente por toda a manutenção de suas boas escolas.

RD – Você sabe o que é improbidade administrativa?

PN – Pouquíssimas pessoas no Brasil sabem o que é isso. É incompetência e acima de tudo má vontade para se administrar aquilo que é público, o que é de todos. De um modo geral no Brasil a improbidade administrativa não tem punição nenhuma. Em Porto Velho, por exemplo, nas últimas eleições, os habitantes da cidade deram um sonoro não à incompetência do prefeito Mauro Nazif. Ele foi honesto, até quês e prove o contrário, mas foi incompetente com o dinheiro público, pois não fez os investimentos necessários. Improbidade administrativa também é a incompetência do gestor público. É a roubalheira e a má administração do dinheiro arrecadado dos impostos pagos por todos.

RD – Boa parte do dinheiro que poderia ser destinado à Educação acaba não sendo porque um agente público resolveu ser desonesto. E é difícil recuperar este dinheiro, de acordo com o próprio Ministério Público. O que você acha disso?

PN – O Brasil só tem até agora um único juiz em toda a sua história: Sérgio Moro. Sempre se roubou dinheiro público, sempre se desviou dinheiro público e nunca houve punição adequada. Por quê? Espero que a Operação Lava Jato não seja somente para punir Lula, o PT e os ladrões da Estrela Vermelha. Todos aqueles que prevaricaram, todos aqueles que erraram, todos aqueles que roubaram dinheiro público devem ser punidos na forma da lei. Sejam eles de qualquer partido político, de qualquer classe social, de qualquer grupo político. Ladrões na política não são só os petistas e seus asseclas. O Brasil ainda espera pela punição de Eduardo Cunha, de Aécio Neves e de Renan Calheiros. O juiz Sérgio Moro tem que mostrar que é a palmatória do mundo e que a Justiça, no Brasil, é cega e que ele, o Moro, não está a serviço de setores mais conservadores de nossa sociedade como se desconfia em alguns setores, principalmente os de esquerda. Dinheiro público tem que ser respeitado e somente gasto com critério.

RD – Se você pudesse enviar uma mensagem para os gestores em relação ao setor da Educação, o que diria?

PN – Eu perguntaria a todos eles, por que o Brasil nunca ganhou um Prêmio Nobel ou outra comenda internacional quando o assunto é educação. Perguntaria: por que os Estados Unidos e todas as potências ocidentais se destacam nos jogos olímpicos todos os anos? O pior é que eles sabem a resposta. Investir em educação de qualidade, em escolas de tempo integral, na aquisição de conhecimentos para todos. O Governo não investe em educação de qualidade, mas a população também não cobra nada. Nunca cobrou. Então, todos se sentem felizes e com a consciência tranquila. No Brasil, o homem mau dorme bem e sem remorsos.

RD – E na condição de servidor que trabalha na Educação, o que diria à população que reclama diuturnamente sobre a prestação de serviços, às vezes direcionando essa revolta até mesmo aos professores?

PN – Eu diria que a culpa pela péssima educação que os filhos deles têm é de todos. Do aluno, dos professores, dos pais, da escola, do Estado, do MEC, dos governos, do Lula, da Dilma, Do Mauro Nazif, do Confúcio, minha, do Rondoniadinâmica, do Vinícius Canova e da sociedade como um todo. Mas só quem vai “pagar o pato” sozinho é o aluno. É ele, o aluno, que vai sofrer as consequências de uma péssima formação. Não conseguirá bons empregos, não conseguirá boas colocações no mercado de trabalho e por isso vai sofrer o resto de sua vida. Diria que leitura de mundo não se aprende apenas na escola. O mundo é uma escola. O aluno deve ser orientado, principalmente pelos pais, em casa. Os pais deviam reclamar do Poder Público pela péssima educação que é oferecida principalmente nas escolas públicas. Mas quem reclama?

 

Autor / Fonte: Rondoniadinamica

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