Robert Michels, os partidos e as eleições 2018 em Rondônia

Robert Michels, os partidos e as eleições 2018 em Rondônia

Robert Michels, autor do clássico “Sociologia dos Partidos Políticos”, analisou, em 1911, que os partidos são organizações inclinadas naturalmente à oligarquização. É dele a célebre frase: “Quem diz organização, diz oligarquia”. Ao analisar por dentro o Partido Social Democrata Alemão (SPD) do início do século XX, Michels constatou que, por mais democrática que fossem as organizações políticas, em especial os partidos, no contexto de instituições complexas e hierarquizadas, sempre haverá um grupo dominante, que impõe sua vontade e o domínio no tocante aos cargos e demais recursos de poder. Desse modo, predominaria a “Lei de ferro da oligarquia”.

Nas eleições de 2014 ao governo rondoniense, o então governador e candidato à reeleição, Confúcio Moura (PMDB) venceu, por uma pequena margem de votos, o ex-senador tucano Expedito Júnior, ex-aliado direto do senador Ivo Cassol (PP). A aliança eleitoral de Confúcio contou com a participação de PDT e PSB, além de outras pequenas legendas. A diferença para 2010 era o vice, saía da composição da chapa o pedetista Ayrton Gurgacz, entrava Daniel Pereira (PSB). Esse acordo foi celebrado pelo senador Acir Gurgacz (PDT), sobrinho de Ayrton, liderança política e dono de um forte poderio econômico e político no estado, e o então prefeito de Porto Velho, Mauro Nazif, principal nome do PSB rondoniense.

Na ocasião, a estratégia de Acir Gurgacz foi vitoriosa. Estava o senador ciente de que se o vice-governador fosse novamente seu tio, Ayrton, pela legislação eleitoral, ele não poderia ser candidato ao governo em 2018. Reeleito ao Senado com expressiva votação, Acir demonstrava sua força política, ao lado dos vitoriosos Confúcio e Daniel. No mesmo pleito, Ayrton Gurgacz garantiu uma vaga na Assembleia Legislativa. Assim, estava selada a aliança entre PMDB, PSB e PDT em Rondônia.

A escolha do nome de Daniel Pereira foi estratégica também por outro motivo. Pereira veio das bases, liderança sindical com grande interlocução com o empresariado e o setor produtivo, foi deputado estadual por dois mandatos pelo PT, até se filiar ao PSB. Sua entrada na chapa peemedebista de Confúcio Moura garantia o apoio de importantes setores da esquerda, principalmente os sindicatos e os movimentos sociais. Diante de uma eleição disputadíssima, Pereira contribuiu diretamente para a reeleição de Confúcio. Não obstante, o acordo firmado entre o pedetista Acir Gurgacz e o então prefeito de Porto Velho, Mauro Nazif, passava pelo apoio irrestrito do PSB à candidatura de Acir ao governo em 2018. Assim, mesmo num possível contexto de renúncia de Confúcio Moura para concorrer ao Senado, e ascensão de Daniel Pereira ao governo – o que de fato ocorreu, Daniel abriria mão da disputa à reeleição, para apoiar a candidatura de Acir.

Ocorre que, no final de 2017, o senador Acir Gurgacz foi condenado pelo STF e a partir daí sua candidatura passou a estar ameaçada sob possível condição de inelegibilidade. Diante dessa nova conjuntura, Daniel Pereira seria uma alternativa direta, tendo em vista, principalmente, o fato de Acir, até o presente momento, não decolar nas pesquisas. Ademais, como governador, seria natural que Daniel concorresse à reeleição. Entretanto, as coisas não são bem assim. Ao perceber que a pré-candidatura de Pereira começava a ganhar fôlego a partir dos sindicatos e movimentos sociais,lideranças de PDT e PSB anunciaram para o dia 29 de julho convenção conjunta que lançará as candidaturas de Acir Gurgacz ao governo e do ex-prefeito de Ji-Paraná, Jesualdo Pires, ao Senado. Desse modo, ao que tudo indica,o governador Daniel Pereira estará fora da corrida eleitoral pela reeleição, vetado pelas cúpulas partidárias de PSB e PDT.

Paralelamente, o MDB, maior e mais tradicional partido rondoniense, vive uma crise interna que envolve suas principais lideranças no estado, o ex-governador, ex-presidente nacional da legenda, e atual senador Valdir Raupp, e o ex-governador Confúcio Moura, que renunciou o cargo em abril para se candidatar ao Senado Federal. Bem avaliado pela população, Confúcio seria, ao lado de Raupp, um dos favoritos. Contudo, desde o início do ano, fortes rumores davam conta que o senador Raupp estaria incomodado com a possibilidade de candidatura de Confúcio, tendo em vista as dificuldades do MDB em eleger dois nomes, mesmo diante de duas vagas em disputa. Para interlocutores mais próximos, Raupp chegou a afirmar que Confúcio Moura teria dito a ele que seria candidato à Câmara dos Deputados, o que certamente facilitaria a reeleição do senador Raupp. Vale recordar que, em 2014, Confúcio quase desistiu de concorrer novamente ao governo, na ocasião, Raupp intercedeu diretamente para que Moura seguisse adiante em seu projeto de reeleição.

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Autor / Fonte: João Paulo Viana / Estadão

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