Primeira negociação sobre saúde e condições de trabalho termina sem avanços

 O Comando Nacional dos Bancários iniciou ontem, quarta-feira 2, a segunda rodada de negociações da Campanha 2015 com a Fenaban, focando o tema “saúde e condições de trabalho”. Não houve avanço na negociação, que continua nesta quinta-feira 3, também incluindo o tema “segurança bancária”.
 
O Comando Nacional reafirmou as reivindicações aprovadas pelos bancários na Conferência Nacional, no sentido de barrar o massacre contra os trabalhadores imposto pelos bancos na busca de mais produção e lucros, visando melhorar as condições de trabalho e preservar a saúde, o que necessariamente passa pelo fim das metas abusivas e do assédio moral.
 
“Infelizmente não observamos qualquer avanço nessa primeira mesa de negociação sobre saúde e condições de trabalho e, para piorar, ainda tivemos que lidar com as provocações dos representantes patronais, que afirmaram que bancário gosta de meta individual. Ora, os dados oficiais da Previdência – que mostramos aos bancos na mesa de negociação - comprovam que as metas abusivas provocam uma epidemia de adoecimentos na categoria, principalmente com casos de transtornos mentais. Temos que solucionar esse grave problema pois não dá para adiar a solução que envolve a saúde dos trabalhadores”, avalia José Pinheiro, presidente do Sindicato dos Bancários e Trabalhadores do Ramo Financeiro de Rondônia (SEEB-RO), membro do Comando Nacional dos Bancários e que também está representando a Fetec-CUT/CN nestas mesas de negociação.
 
 
 
Aumentam os adoecimentos nos bancos
 
A preocupação dos bancários com a saúde e condições de trabalho ficou mais uma vez comprovada pelos resultados da consulta que o Comando Nacional realizou como subsídio para a construção da pauta de reivindicações da Campanha2015.
 
Dos 48.109 bancários que responderam ao questionário distribuído pelos sindicatos, 41% disseram que o combate ao assédio moral deve ser prioridade da campanha deste ano e 35% escolheram o fim das metas abusivas.
 
Os dados epidemiológicos do INSS mostram que está aumentando o número de afastamentos do trabalho por adoecimentos nos segmentos econômicos em geral, mas a situação é mais grave no sistema financeiro.
 
A quantidade de benefícios previdenciários e acidentários entre 2009 (quando o levantamento começou a ser realizado com essa metodologia) e 2013 (último ano com dados disponíveis) cresceu 19,4% nos demais setores da economia, enquanto nos bancos houve um salto de 70,5%.
 
“Os bancos falam em gestão de pessoas, mas o que percebemos é a gestão do lucro, que faz mal à saúde dos bancários. Para mudar essa realidade, vamos procurar fazer um debate profundo sobre a saúde dos bancários, buscando discutir o fim do sufoco e da pressão que a categoria é obrigada a enfrentar no cotidiano dos bancos e defender o atendimento da pauta de reivindicações aprovada na 16ª Conferência Nacional”, acrescenta Pinheiro.
 
 
 
Doenças de origem psíquica crescem mais
 
Entre os bancários, as doenças mentais já superam os casos de LER/Dort (Lesões por Esforços Repetitivos/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho). Do total de auxílios-doença acidentários registrados pelo INSS em 2013, 52,7% tiveram como causas principais os transtornos mentais e do sistema nervoso.
 
Isso significa dizer que de cada dez bancários doentes, cinco são por alguma doença de origem psíquica. Ao comparar os dados 2009 até 2013, os casos de doenças do sistema nervoso e transtornos mentais e comportamentais cresceram 64,28%, saltando de 3.466 para 5.694.
 
As LER/Dort aparecem como a segunda causa de afastamentos da categoria. Os números também são altíssimos e não param de crescer. Foram 4.589 benefícios acidentários e previdenciários concedidos a bancários pelo INSS só em 2013. Os afastamentos do trabalho causados por LER/Dort tiveram um crescimento de 27,54% nos últimos cinco anos. Em 2009 eram 3.598 casos.
 
 
Fim das metas abusivas e do assédio moral
 
O Comando Nacional dos Bancários também destacou a convenção 161 da OIT, que tem o Brasil como signatário, estabelecendo objetivos, princípios e diretrizes de uma política nacional de saúde a partir do diálogo social com os trabalhadores. Os bancários reivindicam que as metas sejam estabelecidas com a participação dos trabalhadores, com critérios para a estipulação, levando em conta o porte da unidade, a região de localização, número de empregados e carteira de clientes.
 
Durante a negociação, o Comando Nacional reivindicou o aprimoramento do instrumento de prevenção e combate ao assédio moral, uma conquista da campanha de 2011. O movimento sindical acredita que o tempo de resolução dos casos precisa ser mais rápido.
 
A negociação com a Fenaban continua nesta quinta-feira (3) com as discussões sobre o GT do adoecimento, grupo de trabalho bipartite que tem a função de analisar as causas dos afastamentos dos empregados do ramo financeiro. Outra reivindicação dos bancários é a alteração da redação da cláusula do programa de "reabilitação" do trabalho, para "retorno" ao trabalho, já que reabilitação é uma atribuição do Estado e não pode ser executado pelas empresas, como os bancos têm feito. A extensão integral dos benefícios para os bancários afastados também está na pauta.
 
 
Segurança bancária
 
O Comando Nacional reivindica melhores condições de segurança para bancários e clientes e assistência às vítimas de assaltos, sequestros e extorsão. Também estão na pauta a permanência de dois vigilantes por andar nas agências e pontos de serviços bancários, conforme legislação. Instalação de portas giratórias com detector de metais na entrada das áreas de autoatendimento e biombos nos caixas. O fim da revista íntima, ainda praticada por muitas agências no País. Abertura e fechamento remoto das agências, fim da guarda das chaves por funcionários e extinção das tarifas para transferência de dinheiro via DOC e TED.
 
Levantamento realizado pela Contraf-CUT e pela Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), com apoio técnico do Dieese, aponta que 66 pessoas foram assassinadas em assaltos envolvendo bancos em 2014, uma média de 5,5 vítimas fatais por mês.

Autor / Fonte: Rondineli Gonzalez /SEEB-RO

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