A culpa é da imprensa!

A culpa é da imprensa!

Porto Velho, RO – Fiquei amedrontado quando, pela primeira vez, me deparei com os dizeres: a imprensa é o 4º Poder. Assertiva espalhada por pessoas de todas as esferas sociais e perigosamente absorvida gradativamente por parte substancial da população brasileira. Pior, alguns jornalistas passaram a se perceber como verdadeiros chefes dessa fatia fictícia de Estado! Pensei, já naquela época – e isso faz no mínimo uns dez anos – na superficialidade opinativa a ressoar tamanha bobagem.

A Grande Mídia, claro, detém poderio sem dimensões; sabidamente, sempre a definir os rumos de sua linha editorial de acordo com interesses políticos e, paralelamente, empresariais. Aliás, os primeiros alimentam estes últimos. Maquia, quando pode, mas só em questões sem condições de afetar os negócios, a parcialidade corporativa; democracia, pluralidade de pensamento e assuntos triviais reforçam a máscara da independência jornalística. 


Há sempre os pequeninos a produzir incessantemente, inclusive os sem vínculo algum com a imprensa. Atualmente, com o advento da Internet, principalmente após a eclosão das redes sociais, não há acontecimento que possa ser "abafado" sumariamente. Varrer coisas pra debaixo do tapete é atitude atroz, vergonhosa, mas ficou no passado. Compartilhamentos em massa no Facebook, por exemplo, chamam muito mais atenção a casos que passaram despercebidos mesmo após veiculação promovida pelas gigantescas emissoras de rádio e televisão.

Embora alguns profissionais da área tenham o Rei na barriga, não adianta: somos serviçais da informação, escravos do ofício. Dependendo da opinião, adjetivados respeitáveis juízes; se remarmos contra a maré, tachados execráveis réus. A maioria das autoridades geralmente gosta da imprensa – principalmente quando citada de maneira favorável em rompantes publicitários travestidos de notícia. Ajudamos a criar salvadores da Pátria que, de maneira conveniente, aparecem e desaparecem com a mesma facilidade e eficiência.

Essa maioria vê na vitrine formadora de opinião a oportunidade de se postar diante da sociedade como herói ou heroína, atividade extracurricular que faz bem para o ego, algo que nenhuma Academia e titulações poderiam conceder. Ao tilintar da primeira crítica, construtiva ou não, rompe-se a paixão. E a horda – que ajudamos a criar – de seguidores da determinada autoridade ora desiludida conosco passa a nos perseguir e a promover denominações das mais baixas e desonestas possíveis.

O 4º Poder, esse sujeito oculto e em stand-by, é o próprio povo! E quem mais poderia ser!? Tudo o que é produzido pelos veículos de comunicação passa pelo crivo do ouvinte, leitor e telespectador.

Agora, há uma deficiência gritante em termos de educação, aquela que vem de casa, e também no tocante ao ensino, o repassado pelas escolas. Neste último caso, por responsabilidade exclusiva do Estado ineficiente, negligente e omisso, não por conta dos sofridos e desvalorizados servidores, que fique claro.


Se o tipo não tem condições de aprumar pensamentos e organizar opiniões nutrindo a decência de pelo menos ouvir o contraditório para que aí, somente a partir daí, após toda essa necessária burocracia intelectual, criar juízo de valor sobre as coisas ajudando a fomentar discussões construtivas, sempre haverá um vilão da história visto com mais força e imponência do que de fato tem. 

E aí, a culpa é da imprensa?

Autor / Fonte: Vinicius Canova

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