Grampo ilegal, chantagem e subserviência: todo mundo já disse alguma coisa – exceto Confúcio

Grampo ilegal, chantagem e subserviência: todo mundo já disse alguma coisa – exceto Confúcio

Porto Velho, RO – Todos os envolvidos já disseram, direta ou indiretamente, oficialmente ou não, suas versões sobre o que pode ser considerado um dos maiores escândalos políticos do Estado de Rondônia – sem sombra de dúvidas.

Todos, exceto o governador Confúcio Moura (MDB).

A trama adornada por suspeitas de espionagem e traços consistentes de arapongagem causaria inveja ao escritor britânico Ken Follett – autor do best-seller O Buraco da Agulha (Eye of the Needle).

Mas, para o azar dos envolvidos, a ilegalidade no que diz respeito tanto à gravação clandestina quanto à divulgação indiscriminada do áudio não anula, pelo menos moralmente, o conteúdo das conversas travadas em tons nada republicanos: há muito a se explicar e é impossível fugir disso.

Não é surpresa para quem quer que seja que o atual presidente da Assembleia Legislativa (ALE/RO) Maurão de Carvalho (MDB), pré-candidato ao Governo de Rondônia, jamais usufruiu da benção de Confúcio, também emedebista, para caminhar rumo ao Palácio Rio Madeira com apoio total da legenda e seus caciques. Maurão, como todo mundo já sabe, é protagonista no episódio que abala de maneira indescritível e por tempo ainda indeterminado as estruturas dos Poderes Executivo e Legislativo.

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Seu interlocutor no roteiro difundido em larga escala por denúncias anônimas é o deputado Jesuíno Boabaid (PMN) que, embora faça questão de tentar amenizar sua participação no diálogo, demonstrou, mesmo sem querer, que é mais sábio, safo, estrategista e inteligente do que parece.


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Em determinada passagem da conversa, Boabaid faz Maurão, que é o presidente do Poder, lembre-se, parecer um aluno ao escancarar como mestre as possibilidades levando em consideração seu conhecimento técnico voltado ao Regimento Interno da Casa de Leis e todos os horizontes diante deles a partir daí.

“Se tiver oito votos já afasta ele [Confúcio] do governo. Sabia disso não?”, questiona Jesuíno.

“Não”, responde um Maurão reticente.

Hermínio Coelho (PDT) é citado na conversa e também já se manifestou oficialmente a respeito. 

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Maurão se apressou e logo pela manhã desta terça-feira (06) repudiou, através de nota, “o uso de expedientes criminosos para atingir objetivos políticos e eleitoreiros”.  O presidente do Legislativo ainda asseverou que "É uma situação perigosa e reprovável, pois estamos em meio a um cenário de jogo sujo, rasteiro, de espionagem, de grampos/escutas ilegais e manipulações de conversas privadas e informais. Isso é uma ação criminosa, reprovável, inaceitável, e como Presidente da Assembléia Legislativa, irei convocar imediatamente a abertura da CPI do Grampo para apurar com rigor os fatos e responsabilizar dentro da lei, os autores desse crime ocorrido perante a Casa de Leis do nosso Estado", desabafou.

A verdade é que todos diante do jugo dos dedos indicadores têm o direito de se defender até as últimas instâncias – munidos de todas as ferramentas à disposição.

Entretanto, os últimos dias denotam, principalmente após entrevista concedida pelo vice-governador Daniel Pereira (PSB), que as reviravoltas em termos de nomeações-relâmpago e destituições ligeiras enviaram a mensagem errada à população de Rondônia: Confúcio não quis “ensinar uma lição” a Daniel. Ele estaria, na realidade, cedendo a pressões e chantagens para permanecer no cargo e evitar desdobramentos desfavoráveis tanto a si quanto a seus inimigos políticos.

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Hoje pela manhã enquanto Rondônia explodia em efemérides negativas ligadas ao dia 05 de março de 2018, o governador que através do blog particular homônimo promete uma conversa aberta com a população rondoniense – como bem lembrou Luciana Oliveira – limitou-se a mais uma mensagem cifrada reforçada pela veia sinérgica de suas aptidões poético-filosóficas.

Logo, parafraseou Guimarães Rosa entendendo como medida suficiente a aplacar a necessidade de explicações exigidas pela sociedade que – ainda – comanda e o elegeu duas vezes ao posto mais alto de chefia em Rondônia. Impressiona, inclusive, que embora mencione mensagem forte sobre ter coragem age na contramão da própria publicação ao evitar exposição deixando tostar todos os envolvidos.

“Regina me mandou agora cedo:

“"O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem". (João Guimarães Rosa)”.

Autor / Fonte: Vinicius Canova

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