Vinte manchetes sobre pedofilia (de verdade) que não chocaram o cidadão de bem do Brasil

Vinte manchetes sobre pedofilia (de verdade) que não chocaram o cidadão de bem do Brasil

Porto Velho, RO – Quero convidá-lo (a) a debater sobre hipocrisia e só. No mesmo dia em que a Internet recriminou fato ocorrido na última semana envolvendo um museu de São Paulo cujas estruturas são cercadas por quatro paredes sólidas contendo ainda entrada única ao centro com enorme disclaimer, algo paralelo despertou minha indignação. Fiquei revoltadíssimo, como muitos de meus compatriotas ficariam porque o tema é espinhoso: pedofilia! E eu sei o quanto meus concidadãos repudiam atos bestiais de violência sexual praticada especialmente contra crianças, algo inadmissível.

Ah, perdão...

Só pra deixar claro: o que me deixou enfurecido não tem nada a ver com a exposição, nem com a piroca mole do ator aquartelada num chumaço de pelugem amazônica e, francamente, também não achei “Oh, meu Deus!” ao observar infantes ambientados com a peça, já que autorizados expressamente por seus pais que, por sua vez, os supervisionavam o tempo inteiro.

Sequer sou pai, porém não levaria um filho meu por conta da complexidade do tema apresentado, que, a meu ver, merece discussões homeopáticas e muito esclarecimento prévio antes de tentar a sorte com o alto grau de subjetividade daquilo que a pluralidade rudimentar de pensamentos poderia entender como Arte.

Isso faz de mim um reacionário? Um “quadrado”? Um “coxinha”? Pode até ser, quem sabe? Mas democracia é isso: opção. Eu sou um. Você é outro. E existem tantos a mais que pensam parecido, igualzinho ou totalmente diferente, não é mesmo? Toda nudez será castigada, professou Nelson Rodrigues. E não é que está sendo mesmo?

Não é o mesmo castigo aplicado à permissividade concedida a praias de nudismo frequentadas por bacanas Brasil afora (e no mundo todo) e suas proles ao maior estilo naturalista, geralmente ignorando o vacilo de Adão, o pai da indústria têxtil. Por causa de uma maldita maçã, caríssimo (a) leitor (a), você paga R$ 300,00 numa calça jeans, um emaranhado de linhas de costura, e sorri de orelha a orelha achando que fez um bom negócio. É bíblico, não me recrimine!


Cidadão de bem tolera nudez de direita com bandeira do Brasil 

Nos eventos políticos contra o PT, partidos de esquerda, mas, principalmente, nas aglomerações pró-impeachment o que mais se assistia em público eram mulheres mostrando os seios e o que mais pudessem em plena luz do dia em locais de grande movimentação, como a Av. Paulista: e a criançada, obviamente, trazida ao espetáculo rumo ao “novo País”.


Papai adúltero se amarra num protesto de direita, né? São seios e genitálias não subversivas

À época a única insurgência contrária era, na realidade, lamentação. “Ah, não. Mostra mais aí. Tira tudo!”. Houve até mesmo uma Musa da Manifestação peladona com discurso politizado e tudo:

“Musa da Manifestação serve champanhe e caviar ao cachorro: 'Quero uma vida como a minha para todos'”.

Olha aí que maravilha, mais socialista que os adversários... E pelo visto, “perseguida” de direita tem direito, pô!

Mas vamos lá!

A minha cólera advém do fato de ter assistido, atrasadíssimo, o aclamado Spotlight – Segredos Revelados (2015). O longa retrata a investigação promovida nos anos 2000 por uma equipe do jornal The Boston Globe em busca dos casos de abuso sexual e pedofilia praticadas por membros da arquidiocese católica de Boston. Leia-se: tudo acobertado criteriosa e sistematicamente pela Igreja Católica, que, infligindo o temor através da fé, conseguiu calar as vítimas das atrocidades durante muitos anos.

Sou gente boa, então vou desenrolar o trailer legendado aí embaixo. Se liga!

Reportagem publicada pela versão online de IstoÉ destacou “Os escândalos de pedofilia na Igreja Católica”. O primeiro parágrafo é acachapante e já diz a que veio:

“Muitos casos de pedofilia cometidos por membros do clero, inúmeras vezes acobertados por sua hierarquia, foram denunciados nos últimos 25 anos, como o escândalo no coral alemão de Regensburger, onde 547 crianças foram vítimas de abusos, incluindo estupro, de acordo com um relatório divulgado”.

Há muito tempo essas situações são reverberadas. Em 2013, por exemplo, o Globo alertou: “Pedofilia na Igreja, fantasma também no Brasil”, logo após Bento XVI largar o papado.

O mesmo ocorre com vários membros da Igreja Evangélica onde diversos pastores criminosos alimentados pela desolação humana utilizam a fragilidade do rebanho para abatê-lo; do pomar apodrecido desta seara religiosa específica, destacam-se estelionatários da fé endinheirados –  que até ensinam a roubar dos inocentesE mais recentemente os pedófilos, maníacos sexuais que passaram a ser enxergados tardiamente como se nem nisso quisessem perder para os da ala desvirtuada do catolicismo.

Reportagens, matérias, artigos, exposição de chagas, enfim, absolutamente nada ecoa na sociedade maciçamente cristã brasileira, no seio familiar do autoproclamado cidadão de bem, quando são os bastiões encarnados de seus dogmas professados a encarar acusações sérias, fartamente respaldadas e que, de fato, corroem vidas, estraçalhando semelhantes.

Prova disso é a CPI da Pedofilia liderada pelo bonachão Magno Malta, repercutida mundialmente após reportagem – excepcional, diga-se de passagem – elaborada e comandada pelo jornalista investigativo Roberto Cabrini.

Provas robustas – documentadas em vídeo – de como órgãos do alto escalão da Igreja Católica, mancomunados, protegem clérigos repugnantes que, municiados da mais pura inocência das crianças que acreditavam no poder da bata, expuseram a faceta mais monstruosa de suas personalidades abusando reiteradamente de seus coroinhas. W3.CSS

MANCHETES QUE NÃO TE INCOMODARAM

Então papai de bem, mamãe de família, gente de graúda moral seletiva e bons costumes aleatórios, se a exposição de Arte em São Paulo em ambiente fechado sob advertência de conteúdo é desagradável e causa repulsa a ponto de tachar nudez como pedofilia, que tal erguer as tochas de seus egos remotos e doentios diante dessas fatias robustas encalacradas nessas instituições abertíssimas e convidativas que facilitam e acobertam os verdadeiros crimes praticados atrás das cortinas (ou debaixo das batas) onde ninguém vê? Será que tem deputado pra dar voz de prisão a pelo menos um dentre milhares de casos?

 

É impressionante a desfaçatez dos hipócritas. Não há comprometimento sequer com aquilo que defendem. Mudam de posicionamento conforme o caso e os polos passivos e ativos do panorama estabelecido. Incoerências dos demônios, diacho! No caso dos livros didáticos censurados em Ariquemes, para se ter ideia, os arautos da Humanidade defendiam o afastamento total do Estado em relação à educação de seus filhos; agora, quando o assunto é a tal exposição supostamente obscena, querem que este intervenha sobrepondo a decisão da família que permitiu o ingresso da molecada ao museu. Pode?

 

Conclamo os pretensos heróis desta pátria falida a avançar empunhando tacapes em chamas contra essa aberração erigida em crenças que destrói famílias inteiras, tira a pureza das crianças e atenta contra Deus.

A subserviência do gado faz com que eu compreenda perfeitamente por que escandâlos não abalam a reputação de políticos evangélicos. Obrigado, Estadão!

E aí, encara?
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OBSERVAÇÃO: não ouse caluniar o autor do artigo denominando-o como incentivador de barbáries contra quem quer que seja. O Rondônia Dinâmica foi – e ainda é – o site regional que mais colocou perpetradores de abusos sexuais contra a parede, mas não apenas os Josés e Franciscos da vida lá do Baixo Madeira e demais longinquas vias periféricas: expusemos médicos (um deles está nos processando), políticos, filho de autoridade pública, maçom, pastor, padre, pais, mães coniventes, avós, vizinhos e por aí vai. Não seja um canalha retórico, saiba argumentar para contrapor!  

Autor / Fonte: Vinicius Canova

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