Nunca houve ditadura militar no Brasil, pergunte à família Herzog!
— Publicada em 26 de setembro de 2017 às 11:50O suicida Vladimir Herzog não foi socorrido a tempo por militares sensíveis
Porto Velho, RO – As “pessoas de bem” estão urrando com as ameaças do general Hamilton Martins Mourão. Ele, que não é bobo nem nada, garantiu intervenção militar interposta pelas Forças Armadas caso as coisas no País não melhorem em termos de obscenidades, corrupção e bla bla blas.
O Exército, claro, já colocou panos quentes na declaração, aliviando Mourão e deixando a repercussão reforçar a ideia de como seria maravilhoso o regresso à Revolução de 64! Sim, Revolução de 64, filhote! Enquanto isso, fica em stand-by observando a movimentação de longe e garantido amor à democracia.
Mas vamos lá!
Ditadura é coisa de esquerdistas, saída da cabeça dos comunas e utilizada a fim de denegrir a imagem de honradíssima instituição que não faria mal a uma mosca, embora tenha arsenal bélico para dizimar continentes – dizem.
Vladimir Herzog, por exemplo, pobre suicida, quase foi resgatado com vida pelos militares quando de sua trágica morte. Mas era tarde. Muito tarde... Imagino a dor dos espectadores, coitados! A própria família de Herzog já admitiu que o Brasil não teve culpa e que as autoridades da época fizeram o possível pra socorrê-lo.
Por sorte, lá atrás, tivemos outro Mourão para deflagrar o movimento revolucionário – e era general também: Olímpio Mourão Filho (a própria filha questiona se este não estaria no inferno) deu o pontapé inicial para depor o vadio, comunista, depravado, anticristão, comedor de criancinha e deplorável João Goulart (Jango).
E danem-se as 434 mortes e desaparecimentos oficiais durante a dit... Revolução! E daí que 8.350 índios foram mortos e massacrados entre 1946 e 1988? Quem se importa com holocausto indígena? O território é nosso, é do mais forte, do desbravador, do colonizador que finca a bandeira, dos homens e das mulheres de bem, pô! Índio tem mais é que se f... Em nome da Revolução, dos bons costumes, da moral, da obediência cívica e da ordem.
Como rondoniense ressalto, com orgulho, a honra em ver o Município de Presidente Médici batizado com as credenciais de Emílio Garrastazu. Em seu governo, a dit... Revolução alcançou o ápice, com atividades políticas toleradas, a repressão e a censura às instituições civis reforçadas. Sem contar que qualquer manifestação de opinião contrária ao sistema foram proibidas. Período maravilhoso e excepcional marcado pelo uso sistemático e de meios violentos como a tortura e o assassinato.
Nunca é demais recordar – e eu vivo dizendo isto – que o brasileiro intelectualmente médio nutre necessidade doentia de andar de quatro, usar rédeas e puxar carroça. Por isso, e só por isso, faz questão de, transitoriamente, eleger um salvador da Pátria para bajular por período determinado de tempo: hoje é o Mourão. Amanhã, quem sabe?
É mais ou menos o que aconteceu com o Barbosão; também com a primeira versão de Janot antes de ser reconhecido como duas-caras e leva e traz e, ainda, figuras patológicas como o próprio Bolsonaro – congressista parasita de três décadas – o herói do momento Sérgio Moro, um juiz que, por ser juiz, e só por ser juiz, aplica penas ao arrepio da lei e se vê consagrado numa figura autárquica reflexo das exigências idiotizadas de quem só enxerga o campo retilíneo.
As pessoas não sabem mais lidar com liberdade.
Não reconhecem mais a importância do Estado Democrático de Direito. Se não houver o ventríloquo para comandá-las marcham em desordem rumo ao desespero.
“Eu preciso ser controlado senão não vivo”.
Triste desfecho para um Brasil que sobreviveu à sangrenta D-I-T-A-D-U-R-A M-I-L-I-T-A-R à base de resistência, luta e luto: faça jus a seus concidadãos mortos, aprenda a ser livre e, se possível, pare de relinchar.
Autor / Fonte: Vinicius Canova