‘Até que a morte nos separe’ não existe na política; e a partilha de bens é uma guerra muito mais dolorosa

‘Até que a morte nos separe’ não existe na política; e a partilha de bens é uma guerra muito mais dolorosa

Porto Velho, RO – Você pode achar normal e relembrar que é legal, juridicamente falando, o mutualismo disfarçado exercido entre Executivo e Legislativo em todos os âmbitos no Brasil. Mais especificamente, pincelemos os exemplos praticados entre prefeitos e vereadores nestes longínquos rincões de terra.

Por conta da governabilidade e dos possíveis incômodos, é mais fácil “abrir as pernas” e lotear a Administração Pública com inúmeros apadrinhados dos edis mais esfomeados – movidos pela sanha – a ter de enfrentar complicações presumíveis.

E aí podemos citar: CPIs fajutas para alardear na mídia situações que não existem só para exasperar a multidão; convocações de greves descabíveis reforçadas por lideranças de categoria “x” ou “y”; emperramento de pautas importantes e, como golpe final, até mesmo julgamentos de contas enviesados pelo ranço e revanchismo, características apresentadas, de forma habitual, pelo cônjuge traído antes, durante e depois do divórcio.

O que as autoridades eleitas chamam de “indicações”, vocábulo geralmente acompanhada pelo termo “isso é normal na política”, o cidadão passou a compreender, depois de muito tempo levando cacete e bancando o otário, como uma prática servil de barganha: faz o meu, que eu faço o teu!

Infelizmente, não enxerga ainda as consequências práticas do desmanche, assistindo a obscenos afastamentos institucionais e seus efeitos como quem admira um pedestre atravessando a rua.

O seu presidente Michel Temer (PMDB), o Pequeno – como denomina o crítico Pablo Villaça – é arquétipo de alça mais elevada do que trato nestas linhas grosseiras.

É tão vigarista que tem a cara de pau de chantagear e retaliar dissidentes de seu governo fraudulento retirando cargos importantes na esfera federal fazendo questão, inclusive, de liberar recursos milionários para bancar emendas de aliados e até da ala formada por deputados sem personalidade com odor de esfíncter presidencial.

Com a dinheirama liberada para fazer escarcéu em seus respectivos Estados, alguns parlamentares cooptados acabam acenando positivamente com a cabeça a cada ar projetado pela ventoinha flácida do ocupante do Jaburu. É mole?

“Até que a morte nos separe” não existe na política

Porém, voltando à analogia do casório, quando o assunto é enlace entre Poderes, a coisa, diferentemente do que ocorre com casais, não termina após o bater do malhete ao fim do litígio.

Não há lei que garanta medida protetiva a alcaide politicamente polígamo, solteiríssimo só de uma ou outra esposa desgarrada; assim como não há Justiça, por outro lado, para proteger vereador desquitado.

A partir do desentranhamento, começam as batalhas de nomeações, exonerações e medidas antirrepublicanas lá e cá, só que sem mediador. Tudo isso por causa de uma relação tacanha, inescrupulosa e inaceitável, embora legalmente admissível, repito, mas que jamais deveria ter começado.

E é bom sempre recordar que, assim como nas contendas judiciais litigiosas tradicionais, ninguém quer sair de mãos vazias. A “sangria” promovida na partilha de bens entre políticos que resolveram se distanciar é muito mais dolorosa e desenfreada.

No fim das contas, é uma guerra sem vencedores. Baixas? Todos os que foram às urnas.

Autor / Fonte: Vinicius Canova

Leia Também