Nomes falsos e devoção religiosa: os hábitos dos suspeitos na mira do FBI

Suspeito chega a Braslia na quinta, antes de ser levado ao presdio de Campo Grande (MT).

Suspeito chega a Brasília na quinta, antes de ser levado ao presídio de Campo Grande (MT).

 

Em comum, os detidos têm a devoção à religião islâmica e o uso de nomes falsos na Internet. Além disso, alguns deles se conheciam, o que pode reforçar a tese da possível existência de uma articulação entre eles para uma suposta ação terrorista.

Com a alegação de que as investigações correm sob segredo de Justiça, as autoridades não confirmaram à reportagem a identidade dos suspeitos, embora a imprensa já tenha divulgado todos os nomes. Com exceção de Vitor Barbosa Magalhães, cuja detenção foi confirmada pela família, e Antônio Andrade dos Santos Junior, confirmado por duas pessoas próximas a ele, o EL PAÍS optou por não divulgar os nomes dos demais suspeitos.

Antonio Andrade dos Santos Junior, 34 anos, usava o nome falso Antonio Ahmed Andrade. Frequentou, por alguns meses, a academia de boxe de Muhammad Al-Mesquita, em João Pessoa. "Eu fiquei muito surpreso com a detenção dele", disse o treinador. "Ele não cometeu nenhum ato de terrorismo. Talvez fosse um pouco dissidente de alguma coisa, mas as coisas têm que ser investigadas".

Segundo o treinador, quando Andrade se reverteu -verbo usado pelos muçulmanos para quem se converte ao Islã, começou a ficar diferente. "Ele mudou completamente", diz, sem conseguir explicar exatamente quais mudanças ocorreram. "A partir do momento em que eu percebi que ele estava diferente, pedi para ele se afastar", conta. O treinador também diz que Andrade é muito inteligente e "fala várias línguas". Antes de se converter, Andrade era ateu "convicto", segundo o treinador muçulmano.

Entre 2013 e 2014, Andrade viajou com Vitor Barbosa Magalhães para o Egito para estudar língua e religião. Eles aparecem em uma foto, divulgada pela revista Vejajunto a uma bandeira do Estado Islâmico. Ao portal G1, a mãe de Magalhães (que usava o nome de Vitor Abdullah) disse acreditar que o filho foi preso por causa da foto. Segundo ela, há três anos, quando a foto foi tirada, o garoto não sabia que a bandeira era associada ao grupo terrorista.

Magalhães vive no bairro da Vila Nova Bonsucesso, em Guarulhos, região da Grande São Paulo, com a esposa e dois filhos, e trabalha na oficina mecânica com o pai, no mesmo bairro. Se reverteu ao islamismo há cerca de seis anos e hoje ensina árabe, chegando a publicar alguns vídeos no Youtube com dicas sobre o idioma. Os pais e a esposa do garoto negaram ao portal G1 que ele tivesse alguma ligação com o Estado Islâmico. À Globo News, a esposa de Magalhães, Larissa Rodrigues, disse que ele “melhorou 100%” depois de ter se convertido ao islamismo. Ainda afirmou que único grupo no WhatsApp que o marido participava e que tinha relação com o Islã, era um sobre árabe, que ele ajudava algumas pessoas com informações sobre o idioma.

V. R., outro suspeito, já foi detido uma vez e condenado por homicídio e roubo. Ficou preso no Presídio Barra da Grota, no município de Araguaína, no Tocantins. Participa de um grupo de motociclistas denominado Welling Motoclub. É casado e vive em Vila Bela de Santíssima Trindade, no Mato Grosso, município com cerca de 15.000 habitantes. Foi nessa mesma pequena cidade que o 11º suspeito se entregou no final da tarde desta sexta-feira. 

Na época, V. R. foi condenado juntamente com L. M., de 32 anos pelo mesmo crime de homicídio - a Justiça do Tocantins ainda não havia levantado todas as informações sobre o caso até o fechamento desta reportagem. L. M. fugiu da prisão de Araguaína, e se entregou, posteriormente, no município de Vila Bela da Santíssima Trindade.

L. M. Trabalhou em dois momentos como mecânico de máquinas agrícolas na empresa Agropecuária Mocoró, em Campos de Júlio (MT): primeiro entre 2013 e 2014 e depois entre fevereiro e abril deste ano, quando foi demitido. Segundo um funcionário da empresa, ele nunca apresentou “nenhuma suspeita”. Nos arquivos da companhia, o endereço dele consta como em Cuiabá. Na página no Facebook, consta que ele estuda Engenharia Mecânica na faculdade Anhanguera, é divorciado e vive em Campos de Júlio.

O treinador de boxe Muhammad Al-Mesquita não acredita em envolvimento dos suspeitos com terrorismo. No final da conversa, ele pediu para frisar: "Eu sou um muçulmano e nunca vou negar isso pra ninguém. A fé islâmica salvou a minha vida. Eu sou completamente contra esses animais terroristas".

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Autor / Fonte: EL PA�S - Gil Alessi, Marina Rossi

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