SÃO PAULO - O deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), ex-presidente do PP em São Paulo, manteve nesta quarta-feira seu apoio ao prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e desdenhou da possibilidade do apresentador José Luiz Datena ser candidato a prefeito pelo seu partido em 2016.

 

— Se ele quiser ser candidato, pode ser. Mas eu acho que ele é um rapaz muito inteligente e não acredito que ele troque o salário de R$ 500 mil por mês na (TV) Bandeirantes por um salário de R$ 25 mil na prefeitura — afirmou Maluf.

 

O anúncio da candidatura do apresentador do programa “Brasil Urgente” foi feito pelo deputado estadual Delegado Olim (PP-SP), amigo de Datena, em sua página no Facebook ontem: “Nasce uma nova política para São Paulo. Datena declara que será candidato à Prefeitura de São Paulo”, disse a mensagem de Olim, que será o vice na chapa.

Foi Olim quem fez a ponte entre Datena e o PP. Antes de fechar com o Partido Progressista, o deputado intermediou conversas entre o apresentador e o PSB e PSDB. O acerto foi feito em reunião entre os dois e o presidente do PP-SP, deputado federal Guilherme Mussi, na terça à noite.

 

— Acho que ele não se enquadrou nas conversas com os outros partidos e sentiu mais segurança e mais clareza (aqui), até por se tratar de uma amizade pessoal com o Olim, e por ter ocorrido uma troca no comando estadual do partido. Olim será o presidente do diretório municipal. Nós respondemos por nós mesmos — afirmou Mussi, que sucedeu Maluf na presidência da sigla depois de uma disputa conturbada.

Apesar da divulgação da candidatura, ainda não há data para a filiação do apresentador ao PP, o que foi criticado por Maluf:

— O Datena mostrou para vocês a ficha de inscrição no partido? Como ele pode ser candidato se ele não é filiado? Você vai para um casamento e não mostram a certidão?

 

Procurado pelo GLOBO, Datena não retornou. Mussi explicou que as datas serão definidas pelo apresentador.

 

— Questões legais vamos deixar tudo no tempo dele. Como ele quer fazer, com estardalhaço ou mais tranquilo, em que lugar, quando transferir o título de Ribeirão Preto para São Paulo. Publicamente, ele que fez o anúncio, que pediu a foto, que se entusiasmou com a ideia. Então, na verdade, o compromisso é a palavra dele. Agora como, quando e onde devemos acertar semana que vem. Ele está ciente do tempo legal do TSE para fazer isso, de até um ano antes da eleição — disse o presidente do PP-SP.

 

Outro ponto de discórdia entre Maluf e o novo comando da sigla é o rompimento da aliança com o PT. Para o deputado federal, Haddad faz uma administração honesta e manter a coligação é uma questão de coerência.

— Eu sou um homem coerente, minha vida pública não tem incoerência. Em 2012, eu apoiei o Fernando Haddad e eu estou feliz em ver que ele está fazendo uma administração honesta. Onde não tem escândalo é exatamente na Prefeitura de São Paulo. Se o Fernando Haddad teve nosso apoio para a eleição, vai ter apoio para a reeleição também — afirmou Maluf.

 

Já o novo presidente do diretório estadual da sigla fez questão de esclarecer que a coligação com o PT foi feita na gestão da Maluf:

— O acordo com o governo municipal foi feito pelo antigo comando do partido. Agora fica a critério do Fernando Haddad, se ele quer manter nomeadas as pessoas indicadas pelo antigo comando. Nós, do atual comando do partido, não temos ninguém trabalhando na prefeitura. Temos respeito pelo prefeito, mas o partido está buscando voo solo com candidatura de porte grande — afirmou Mussi.

O PT analisa com cautela a mudança no cenário. O diretório municipal avalia que Datena dispute votos com o deputado Celso Russomanno (PRB-SP), também apresentador de TV e terceiro colocado na disputa pela prefeitura em 2012. Para os petistas, no segundo turno, deve prevalecer a polarização entre PT e PSDB, que ainda não definiu seu candidato.

 

 

CENÁRIO

O professor de ciências políticas da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) Claudio Couto lembra que não é incomum a entrada de profissionais da mídia na política, assim como comunicadores que exploram a criminalidade e a violência em seus programas. E cita o exemplo do apresentador e ex-deputado Afanásio Jazadi.

— Como outros no passado, Afanásio, por exemplo, Datena é o comunicador dedicado a explorar a questão da criminalidade e da violência, lançando mão da virulência verbal contra bandidos e fazendo a apologia da polícia. Também nisso, portanto, ele não é uma novidade. Mas tem certamente potencial para angariar muitos votos — afirma Couto.

 

Para o professor, a escolha de um delegado como vice na chapa do apresentador é uma forma de reforçar esse perfil de candidato vinculado à segurança pública.

— Não me surpreenderia que até a eleição um candidato com outro perfil fosse escolhido para ser vice, que complemente. E, até lá, o delegado terá usufruído da visibilidade que a condição de vice lhe proporcionar, o que pode ser útil eleitoralmente para ele também.

Couto também analisa o surgimento de um “malufismo 2.0” com a entrada de Datena na política, uma renovação da política conservadora.

 

— O malufismo pode ser visto de diversas formas, para além da pessoa do próprio Maluf. É uma orientação política conservadora com relação à concepção urbanística, à segurança pública e à provisão de serviços sociais. Isso não significa que ela é completamente despreocupada de questões sociais. O último Maluf ainda competitivo eleitoralmente dizia que "um fazedor de obras também faz políticas sociais". Ouvi o Datena afirmar que seu alinhamento é mais à esquerda, já que se preocupa com o social e com a redução das desigualdades. A questão é que fica difícil ser de esquerda e defender a atuação da polícia da forma como se dá hoje, marcada pela altíssima letalidade, pelo desrespeito a direitos individuais e pelo tratamento diferenciado a cidadãos de diferentes classes sociais. Isso está mais para a nossa direita "de raiz", da qual o malufismo é um exemplar tradicional. Datena parece vir para renová-la geracionalmente, mas nem tanto no estilo. Vale novamente o paralelo com o Afanásio.