Crítica do filme "Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário"

  os-cavaleiros-do-zodiaco-a-lenda-do-santuario-7-e1410400982641

NOTA4.0

Tenta ser ousado e moderno, ainda mantendo a essência, mas falha na realização e acaba se sabotando.

Sem nenhum receio, podemos dizer que Os Cavaleiros do Zodíaco é para o Brasil a animação japonesa mais importante já exibida – mais até que o próprio Dragon Ball. Quando em 1994 a Rede Manchete começou a passar o programa, não demorou muito para o troço se tornar sucesso absoluto e formar uma legião de fãs. Ter acesso a essa nova linguagem que continha certo peso dramático e fortes cenas de batalhas, geralmente banhadas em sangue, foi uma experiência que até então poucos jovens tinham tido acesso. Além de tudo, seguia uma inédita linha cronológica que fazia a multidão aguardar ansiosamente pelos próximos episódios.

Saint Seiya, no original, não só abriu portas para novos animes, vide Yu Yu Hakusho,Shurato e Sailor Moon, como também foi responsável pela chegada de revistas especializadas, álbuns de figurinhas e brinquedos. A mídia virou febre e até hoje surge por aqui grandes estrondos, o que vimos em Pokemón, Digimon e Yu-Gi-Oh!.

cena-de-os-cavaleiros-do-zodiaco---a-lenda-do-santuario-1410380909184_956x500

Dentre a série original, filmes também animados foram feitos em paralelo à obra deMasami Kurumada, alguns até chegaram aos nossos cinemas, o caso de A Lenda dos Defensores de Atena (1988) e Prólogo do Céu (2004). Entretanto, nenhum deles teve uma produção tão audaciosa quanto este A Lenda do Santuário, que será distribuído em circuito mundial e tem como objetivo celebrar os 40 anos de carreira do autor. De modo que o projeto pôr-se a ser planejado em 2007, mas foi somente em 2010, com o roteiro de Chihiro Suzuki e Tomohiro Suzuki, que o longa-metragem, rodado em CGI, começou a ser realizado pela Toei Animation.

Quando vieram as primeiras informações, que o filme abordaria toda clássica Saga do Santuário, algumas dúvidas obviamente surgiram: como poderiam condensar mais de 70 episódios, de 20 minutos, em menos de 1h30 de duração, sem que a qualidade do conto fosse prejudicada? Isso seria possível? Provavelmente sim, não fosse os realizadores acreditarem tanto na fama de seus personagens e esquecerem regras básicas de roteiro. E isso é algo que me soa confuso, já que em tese a proposta inicial seria, além de dar uma refrescância geral, modernizar a franquia e trazer novos adeptos, mas falha miseravelmente.

os-cavaleiros-do-zodiaco-a-lenda-do-santuario-imagem-promocional

Dirigido por Kei’ichi Sato, a fita tem um primeiro ato razoavelmente ruim, pois, mesmo apresentando sua história e criando background, faz isso da maneira mais expositiva possível, equiparando-se ao didatismo dos animes da época. O principal erro do filme logo pode ser notado no (não) desenvolvimento e apresentação dos demais personagens centrais – eles são Shiryu, Hyoga, Shun e principalmente Ikki, de curta participação. Apenas o casal Saori e Seiya tem suas vidas contadas e possuem personalidades um tanto singulares. Este último, agora com um perfil mais malando, expõe diálogos tosquíssimos e isso é visto na primeira luta, quando pergunta ao inimigo se ele já sentiu o cosmo queimar em seu coração. Algo que simplesmente não cabia ali.

Com a chegada dos Cavaleiros de Ouro, o problema piora ainda mais, já que precisando correr, Sato dá pulos enormes na trama e novamente não aprofunda as tais figuras, sem falar nas muitas batalhas curtíssimas – que se mostram até interessantes do ponto de vista gráfico –, quase não dão chance de a plateia criar a catarse esperada. Igualmente, marinheiros de primeira viagem irão simplesmente boiar quando se depararem com algumas situações vividas pelos místicos personagens. Só os apreciadores mais antigos irão perceber algumas sacadas que já são marcantes no cânone do desenho.

lenda_novasimagens_1

Por outro lado, em aspectos visuais, o longa chama atenção não pelos cenários e bonecos parecerem reais, aliás, estão longe disso, mas pelo jeito estilizado empreendido por uma equipe de produção competente. As armaduras também se destacam, pois possuem um maior cuidado de brilho e sombreamento. Como auxílio está a boa mixagem de áudio que pela primeira vez é atenta em reproduzir o som dos metais das vestimentas, quando os cavaleiros se movimentam.

Muito aquém do que se aguardava, mas cumprindo bem sua função de puro entretenimento (para uma baixa faixa etária), este A Lenda do Santuário deve desapontar novos públicos e apenas tirar alguns sorrisos amarelos dos fãs mais velhos. Entretanto, o saldo positivo que podemos tirar daqui é o reencontro com personagens que marcaram a infância de toda uma geração e sempre são lembrados em conversas no que se refere à cultura pop. A nostalgia de ir ao cinema ver Os Cavaleiros do Zodíaco, ao lado de pessoas que também viveram aquela época, é uma sensação deveras saudosista e querida.

OBS: A dublagem brasileira está excepcional e conta com todos os nomes que trabalharam na série animada original.

 

cinepop.virgula.uol.com.br/os-cavaleiros-do-zodiaco-a-lenda-do-santuario-79571

 

Autor / Fonte: Cinepop

Leia Também

Comentários