Principal publicação de esquerda da França, o jornal Libération diz que, depois dos escândalos do Mensalão e do Petrolão, a tolerância dos brasileiros com a corrupção está menor. Em reportagem de duas páginas na sua edição do fim de semana, o diário diz que a “investigação sobre as propinas que alimentaram o caixa do Partido dos Trabalhadores desestabiliza a presidente Dilma Rousseff, agora passível de ser destituída”.

 

© Fournis par RFI

 

O artigo da correspondente em São Paulo, Chantal Rayes, utiliza um termo cada vez mais comum na boca de analistas nas últimas semanas para descrever a situação do governo Dilma: “tempestade perfeita”, a mistura de um caso de corrupção com uma situação econômica que se aproxima da recessão.

 

 

Libération diz que Dilma está fragilizada, não tendo conseguido evitar a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito nesta quinta-feira (27). O jornal destaca que não há consenso entre os diferentes órgãos de investigação sobre os valores desviados da companhia petrolífera, apenas de que se trata de uma soma poucas vezes vista. O Ministério Público fala em € 600 milhões, mas a Polícia Federal acredita que pode chegar a mais de € 3 bilhões, fruto da fatia de 1% a 3% de propina paga em cada contrato “ao PT a dois partidos de sua coalizão”.

 

O jornal ressalta que, segundo uma pesquisa, 77% dos brasileiros acreditam que a presidente sabia dos desvios na Petrobras e apenas 23% aprova o governo. “Em 2005, o escândalo do Mensalão já havia afetado a imagem do partido de Lula, que até então era considerado incorruptível. Mas o limite de tolerância dos brasileiros, escaldados com as incertezas econômicas, agora está menor”, diz o Libération.

 

Impeachment

 

A correspondente em São Paulo relata que a oposição ainda evoca timidamente a possibilidade de um impeachment por crime de responsabilidade, mas afirma que alguns juristas brasileiros acreditam que a presidente é sim passível de destituição, mesmo que Dilma ainda não tenha sido ligada diretamente ao Petrolão.

 

O jornal lembra que Dilma foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras durante os dois mandatos de Lula, época em que a corrupção de forma sistemática teria começado. Ela também deu o aval para a compra da refinaria de Pasadena, que causou um prejuízo de € 710 milhões aos cofres da empresa.

 

Apesar deste contexto, o Libération cita a jornalista brasileira Eliane Cantanhêde, para quem a possibilidade de um impeachment não está colocada. Para ela, a situação do país hoje é muito diferente da que levou à queda de Fernando Collor em 1992, e Dilma contaria com uma rede de sustentação mais forte, graças ao poder de mobilização do Partido dos Trabalhadores e de seu militantes.

 

www.msn.com/pt-br/noticias/mundo/corrup%c3%a7%c3%a3o-na-petrobras-desestabiliza-dilma-rousseff-diz-lib%c3%a9ration/ar-BBi5309