Com ajuda de mãe e noivo, jovem de 25 anos assume time no Acre: 'É preciso renovar'
— Publicada em 08/02/2016 às 14h06min© Arquivo Pessoal Rafaela Escalante Presidente Placido de Castro
O que você fez (ou pretende fazer) aos 25 anos?
Rafaela Escalante tem essa idade, já se formou na faculdade e realizou o sonho de muitos fãs de futebol. No último dia 24, ela foi eleita presidente do Plácido de Castro, clube acreano da cidade a 95km da capital Rio Branco, próxima à fronteira com a Bolívia, e campeão estadual de 2013.
Seu time de coração, agora comandado por ela mesma.
Fanática pelo "Tigre" desde 2008, quando a equipe tornou-se profissional e disputou pela primeira vez o Campeonato Acreano, ela é ex-presidente de uma torcida organizada do Plácido, a "Fanáticos Castro", que fundou ao lado do noivo, Paulo. Hoje, ela conta com a ajuda dele, de amigos e também de sua mãe, Tereza, para botar a casa em ordem na agremiação.
O único que não pode testemunhar o sucesso de Rafaela foi seu pai, Cézar, que era seu companheiro de estádio na infância em Plácido de Castro. Ele faleceu quando ela tinha apenas 9 anos, mas segue na memória da filha, apaixonada pelo esporte.
"Eu sou formada em administração e trabalho como analista financeira em uma empresa de Rio Branco. Meu noivo e meus amigos entraram junto comigo nessa empreitada no Plácido, estão me ajudando muito, mesmo tendo pouco tempo", conta a dirigente, ao ESPN.com.br.
Antes de ser eleita pelo Conselho do Plácio de Castro, assumindo no lugar de Nerycildo Silva, que abdicou do cargo, Rafaela costumava brincar que um dia ganharia na loteria e compraria o time para comandá-lo. Ela não acertou a "Mega-Sena", mas o destino se encarregou do resto.
De início, a ideia da analista financeira não era ser presidente. Ela entrou como vice na chapa que concorreu na última eleição, mas, com a desistência do candidato principal, acabou aceitando tornar-se mandatária. Ao seu lado, entrou Jovelina Melo como vice, o que transformou o Plácido no único time do Brasil a ter duas mulheres no comando.
Segundo Rafaela, a família achou tudo estranho no começo.
"Minha mãe achou esquisito, ficou bem surpresa, mas aceitou. Está me ajudando muito e dando ideias do que fazer para arrecadar fundos e ajudar o time. Esse apoio da família e dos amigos é muito importante", ressalta.
A cartola de apenas 25 anos também diz que vem sendo muito bem tratada pela "velha guarda" do futebol acreano, como os presidentes de outros clubes e os dirigentes da federação estadual. Até agora, nenhum sinal de machismo também,
"Eles estão me tratando como se eu não fosse tão jovem, porque eu resolvi encarar esse desafio e sempre deixei bem claro o que eu queria. Eles me respeitam muito, e a idade não é nenhum empecilho para mim. Vários amigos me disseram que eu realizei o sonho de muita gente quando assumi meu time de coração", brada.
"Até agora, não recebi nenhum tipo de machismo. Ao contrário! Fui muito elogiada na Federação Acreana, todo mundo querendo que meu projeto dê certo e que o futebol cresça no nosso Estado", completou.
Rafaela vê sua eleição no Plácido de Castro como um sopro de renovação no futebol do Acre. Ela quer que isso seja espelho também para outros setores, como a política.
"Não só a política no Brasil, mas no futebol também é preciso dar uma renovada. Precisamos de ideias novas, e pessoas que saibam ouvir e que saibam falar o que querem. Nosso dirigentes do passado agiam muito por impulsão, não sabiam o que era planejamento. Quero ver tudo diferente disso", observa.
Formada em administração e especialista em finanças, Rafaela diz que sua missão mais difícil será colocar as contas do Plácido de Castro em dia e honrar os compromissos. Nos últimos dias, ela vem trabalhando no planejamento da equipe para a temporada e esbanja otimismo.
"Meu plano é cortar custos e não agir por impulsão. Não se pode gastar mais do que se arrecada, isso é óbvio. Não temos nada, entrei para conseguirmos parceiros para não termos que colocar dinheiro do bolso no clube, nem do Governo, e gastar o mínimo possível", salienta.
"Não quero prometer nada que eu não possa cumprir ou quebrar no orçamento. Quero chegar ao final do ano sem ninguém reclamando que não recebeu o pagamento. Não queremos dever nada para ninguém", finaliza.
Que sirva de lição para muitos dirigentes mais velhos por aí...
Autor / Fonte: ESPN/ Francisco De Laurentiis e Vladimir Bianchin
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