As Duas Faces de Janeiro | Crítica do filme

As Duas Faces de Janeiro

As Duas Faces de Janeiro

The Two Faces of January 
EUA / França / Reino Unido , 2014 - 96 minutos 
Suspense

Direção: 
Hossein Amini

Roteiro: 
Hossein Amini

Elenco: 
Oscar Isaac, Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Daisy Bevan, David Warshofsky, James Sobol Kelly

Bom
as duas faces de janeiro
as duas faces de janeiro

Quem conhece a obra da romancista Patricia Highsmithpor O Talentoso Ripley vai logo reconhecer seus traços em As Duas Faces de Janeiro (The Two Faces of January, 2014). Estão lá mais uma vez a ambientação no Mediterrâneo, personagens da alta sociedade decadente e um jovem que não tem muito a perder - fatores de uma tragédia anunciada.

Publicado originalmente em 1964, o romance ganhou uma edição brasileira em 2004 pela editora A Girafa. Na trama do filme, o americano Rydal (Oscar Isaac), guia turístico na Grécia, se aproxima de um casal de viajantes (Viggo Mortensen e Kirsten Dunst) e acaba testemunhando um crime. Unidos pela cumplicidade, eles fogem de Atenas e um triângulo amoroso se estabelece.

Hossein Amini, roteirista de Drive e de Branca de Neve e o Caçador, estreia aqui como diretor, e a experiência do trio de protagonistas garante que a transição de Amini seja suave. O texto de Highsmith, de qualquer forma, é quem dá o tom, cheio de simbolismo e de contraposições entre o velho e o novo e, especialmente, entre o velho e o muito velho.

O que As Duas Faces de Janeiro frisa desde os primeiros planos é que velhice e decadência são duas coisas diferentes. Pelas ruínas do Parthenon de Atenas o personagem de Mortensen caminha altivo, como se dominasse a história e fosse alheio a ela, ao lado da sua esposa um par de décadas mais jovem. Em boa medida, é por ignorar o tempo que ele terminará castigado; seus golpes, revelados, e sua decadência moral, exposta.

O roteiro não se contenta em remeter à Grécia Antiga, berço cultural do Ocidente, para falar de civilidade. Pinturas rupestres e referências ininterruptas ao fogo - cigarros seguidos, o fogo do isqueiro na escuridão, o fogo dos ferreiros no clímax - vão mais longe, até os primórdios do homem e seus instintos mais básicos e antigos, como a própria luta pela sobrevivência.

Algumas cenas são bem sacadas enquanto ilustrações da violência que há no mundo versus a violência que o homem cria (de novo as contraposições), como o momento em que Mortensen acorda na praia diante de um pescador surrando um polvo - ato que, entendemos depois, ele reproduz toda manhã por horas. De novo, o tempo parece escapar de quem nunca precisou se dar conta dele.

Embora As Duas Faces de Janeiro dê uma forçada na questão pai/filho - amarrada demais para uma relação tão tênue - o suspense ainda é a prioridade, e não se esperaria nada diferente de um texto de Patricia Highsmith. De resto, parece impossível filmar na Europa e não falar de história e do tempo - é a única narrativa que ainda une o dividido Velho Continente.

As Duas Faces de Janeiro | Cinemas e horários

Autor / Fonte: Omelete

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