A principal motivação das atuais manifestações é a corrupção ou o ódio ao PT? Por: Itamar Ferreira

 


Pelo bater de panelas (e onde elas estão sendo batidas), pelas faixas, caras agressivas e pelas palavras de ordem, uma coisa é clara: há um ódio latente entre os manifestantes do último dia 15 de março. Eles querem "acabar com essa raça". Essa raiva incontida se volta apenas contra o Partido da Estrela.
 
 
 
Os manifestantes verbalizavam seu ódio como sendo contra a corrupção e ao que seria o maior escândalo de todos os tempos, mas as contradições desse discurso são evidentes em todos os lugares: o ódio é só contra os corruptos que seriam do PT.
 
 
 
Em relação aos corruptos que seriam do PSDB, PMDB, PP e PTB, só para citar a lista do "Petrolão" no STF, há uma enorme tolerância e até boa convivência. Mas será que a corrupção tem partido, ou se ela está somente no governo federal?
 
 
 
Tivemos pelo Brasil afora a participação, por exemplo, de Agripino Maia (DEM); do lobista Luiz Abi, primo do governador Beto Richa (PSDB-PR) e da banqueira esposa do dono do Itaú, só para citar alguns casos, atuando ativamente na manifestação "contra a corrupção".
 
 
 
Agripino se tornou réu no STF esta semana em processo por corrupção. O primo do governador do Paraná foi preso um dia depois da manifestação, também por corrupção. E o Itaú deve mais de R$ 18 bilhões de sonegação.


 
Também se tem notícias de que várias figuras da grande mídia como Ratinho, Jô Soares, jornalistas e donos de meios de comunicação estariam envolvidos na sonegação do HSBC.
 
 
 
Mas em Porto Velho também tivemos "exemplos" de “moralidade” participando e liderando o movimento "Vemprarua PVH": um jornalista condenado pela Justiça Federal por falsificação de documento público (este foi até o porta voz em cima do carro de som); um juiz afastado pela Justiça do Trabalho num rumoroso caso de irregularidades e um ex-senador cassado por compra de votos e abuso do poder econômico, e que tem a fama de não pagar dívidas de campanha.
 
 
 
E mais: nessas manifestações não vimos qualquer indignação contra os corruptos de Rondônia. Ora! Até onde vai essa indignação com a corrupção? A resposta parece simples: até onde tiver petista envolvido, porque as demais corrupções, aparentemente, são toleradas e não despertam a mesma "ira santa" que vem à tona quando há algo relacionado ao PT.
 
 
 
Se questionados, esses manifestantes até falam que são contra a corrupção em todos os partidos, mas, na prática, nas redes sociais, nas faixas, camisetas, panfletos, cartazes e carro de som, só se vê e se ouve um único partido que seria o responsável por toda corrupção do Brasil.
 
 
 
Essa tolerância com as demais legendas e intolerância com o Partido da Estrela só pode ser explicada por um fator: o ódio! Sentimento esse que é alimentado diariamente pela grande mídia, que dedica grandes espaços para uns casos de corrupção e omite outros.
 
 
 
Mas, salvo melhor juízo, há ainda uma raiva inconfessa contra as políticas sociais afirmativas para as classes mais pobres, que tem afetado o modo de vida desse raivoso segmento, trazendo mais igualdade social, como: alunos de escolas públicas ficando com mais da metade das vagas nas Universidades Federais; e o Bolsa Família que tem reconhecimento mundial, mas é rotulado como "bolsa esmola";
 
 
 
A ira aumenta com: os direitos dos empregados domésticos iguais aos dos demais trabalhadores; a maior parte dos recursos habitacionais direcionados para o Minha Casa Minha Vida; o aumento do poder de compra de uma grande parcela da população que passou a comprar moto, carro, a viajar de avião...; 6) Salário Mínimo tendo reajuste diferenciado bem acima da inflação, empurrando para cima toda a base salarial; 7) mais médicos e muito mais.
 
 
 
Logicamente não se pode generalizar nenhuma situação, mas essas manifestações não são organizadas e lideradas pelos trabalhadores e movimentos sociais, como se via tradicionalmente, mas sim por empresários, inclusive os maiores do país, com apoio declarado da grande mídia.
 
 
 
Por uma questão de coerência deveria haver nessas manifestações a defesa de punições exemplares em todos os casos de corrupção, independentemente de os acusados serem do PT, PSDB, PMDB, PP, PTB... ou que não tenha partido, pois, até prova em contrário, corrupção é sempre maléfica e deve ser repudiada por toda sociedade.
 
 
 
* Itamar Ferreira é bancário, sindicalista, formado em administração de empresas e pós-graduado em metodologia do ensino pela UNIR, acadêmico de direito 7º período e presidente da Central Única do Trabalhadores (CUT).

Autor / Fonte: Itamar Ferreira

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